ARTES VISUAIS

Riel abre hoje a exposição 'Insegurança pública', no Centro Cultural UFMG

Artista aborda a truculência das forças de segurança e da ditadura militar na mostra que fica em cartaz desta sexta-feira (13/6) a 6 de julho, em BH

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As marcas da desigualdade social e racial, bem como a truculência policial, sempre estiveram presentes na vida do artista visual Riel, nome artístico adotado por Gabriel Araújo Soares. Isso explica o teor das obras que ele apresenta em sua primeira exposição individual, “Insegurança pública”, que será aberta nesta sexta-feira (13/6), no Centro Cultural UFMG, com nove pinturas e duas esculturas.

Em todas as telas há a presença de militares, da polícia ou do Exército, em confrontos ou em imagens que trazem referências históricas do período da ditadura. Prestes a concluir o curso de artes visuais na UFMG, com habilitação em pintura, Riel mora no Bairro São Gonçalo, na Região Norte de Belo Horizonte. O trânsito entre a periferia e o ambiente elitista das galerias escancarou o abismo social que inspira a mostra.

A percepção dessas diferenças, aliás, vem de antes. “Sou de família mestiça, metade é preta. Uma coisa que sempre reparei é na diferença de tratamento no dia a dia. A parte mais clara da família fez universidade, a mais preta foi para o trabalho informal”, diz. Ele cita o tio caminhoneiro, cuja imagem utilizou em uma das telas, substituindo a do estudante em confronto com militares nos anos de chumbo.

Riel destaca a violência desproporcional, rotineira na região em que mora, em comparação com áreas mais nobres da cidade. “Curso artes visuais, um meio muito elitista, e percebo o contraste que me causa indignação. Resolvi colocar isso no meu trabalho.”

Manifestante é preso, com rosto nas mãos de policiais
Violência policial é tema da pintura de Riel Riel/reprodução

O conjunto de pinturas de “Insegurança pública” revela amadurecimento no que diz respeito a essas percepções e à forma como o artista aborda temas que lhe são caros, observa.

“Com o tempo, notei que estava retratando muito a opressão. Parei para pensar em que mensagem estava querendo ar. Comecei a pegar imagens de confronto, de embate, em que os oprimidos revidam. A gente não tem de ser submisso ou omisso. A reação é legítima, não só com violência, mas também por meio dela, se necessário”, ressalta.

O texto de apresentação da mostra diz que ela carrega a “denúncia explícita”. Com efeito, em “Insegurança pública”, a metáfora ou a sugestão cede espaço para representações objetivas da violência, com imagens claramente reconhecíveis. Muitas vezes, manchas ou borrões escondem os rostos dos personagens – no caso de agentes públicos de segurança, como forma de apontar a impunidade da violência policial.

Riel diz que a ideia é dar “uma sacudida” em que vê suas obras. “Quis ser explícito, ser óbvio, fazer um negócio em que qualquer pessoa bate o olho e sabe o que é, sem precisar de bagagem artística. É para todo mundo, inclusive convidei minha galera do bairro, que não está acostumada a frequentar exposição, para a abertura”, conta.

Riel, de 30 anos, revela que sofreu episódios de violência na infância, algo que ainda carrega consigo. “A violência faz parte da minha vida, não é só algo com que trabalho na arte”, afirma.

Polícia Federal

Sincero, diz que entrou para o curso de artes visuais para ter formação superior, o que facilitaria o caminho para o concurso público.

“Contraditoriamente, minha meta era entrar na Polícia Federal. Sempre pensei em mudar as coisas ou pelo menos ajudar a mudar. Pesquisando durante o ensino médio, concluí que a Polícia Federal seria o melhor para mim, porque tem mais autonomia, até para investigar pessoas poderosas”, explica.

Durante o curso, sua relação com o universo das artes mudou, muito em função do professor Alan Fontes, de quem foi assistente.

“Ele me introduziu nesse meio. Gosto muito de pintar, digo que chega a ser terapêutico, porque é uma forma de expressar sentimentos que tenho. Também tem a coisa de ser o mercado em que circula muita grana, isso atrai. É um mercado muito fechado, que a gente da periferia não faz ideia do que seja”, ressalta.

Jovens pulam em carros durante protestos, em quadro pintado por Riel
Protestos ganham destaque em 'Insegurança pública', exposição de Riel que fica em cartaz até 6 de julho no Centro Cultural UFMG Riel/reprodução

Se as telas explicitam a violência, duas esculturas de Riel propõem um jogo sutil entre o ado e o presente. “Ossadas”, composta por peças de barro cobertas de tinta negra, é referência ao Cemitério de Perus, em São Paulo, onde mais de 1 mil vítimas da ditadura militar foram sepultadas clandestinamente.

Já “Constituição” é a reprodução da Carta Magna feita em aço inox, com simulação de ferrugem na capa e furos feitos por balas nas páginas internas.

“É uma crítica ao momento atual, à ascensão da extrema direita, à eleição de Bolsonaro e à tentativa de golpe. As páginas alvejadas fazem alusão ao enfraquecimento da democracia por dentro, porque a extrema direita chegou ao poder por vias legais, por meio de eleição”, diz Riel.

“INSEGURANÇA PÚBLICA”

Exposição de Riel. Abertura nesta sexta-feira (13/6), às 19h, no Centro Cultural UFMG (Avenida Santos Dumont, 174, Centro). Abre de terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h. Entrada franca. Até 6 de julho. Informações: (31) 3409-8290.

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